ESCOLA SEM PARTIDO E RAÇA: Uma Educação para a Colonialidade?

Caio Matheus de Freitas Garcia, Caroline dos Santos Maciel Silva, Pedro Pinheiro Teixeira

Resumo


Ao longo da última década, observa-se o avanço do conservadorismo sobre diferentes esferas da sociedade brasileira. No campo educacional, esse avanço pode ser visto na atuação do movimento Escola sem Partido (ESP) em disputas sobre currículos, políticas e práticas escolares. Pesquisadores criticam as ações e posicionamentos do movimento, que reforçam concepções de educação autoritárias, discriminatórias e alinhadas à colonialidade. A colonialidade pode ser compreendida como um padrão de poder de vocação mundial, que tem como um  de seus fatores fundamentais a classificação da diversidade humana a partir da noção de raça, utilizada para naturalizar as dinâmicas de dominação colonial e que ainda permanece nas relações sociais. Em contrapartida, os estudos da decolonialidade e da interculturalidade buscam por novas formas de conhecer, pensar e ser que desafiem os significados e as lógicas da colonialidade. O objetivo deste artigo é identificar e analisar as características da colonialidade em pautas defendidas pelo movimento Escola sem Partido no que se refere às relações étnico-raciais. Para isso, realizamos um levantamento de textos disponíveis no blog do movimento na internet e analisamos seu conteúdo a partir de referenciais decoloniais, especialmente dos conceitos de colonialidade do ser, do saber e do poder. Os textos analisados expressam críticas recorrentes ao ensino de História e consideram como doutrinação abordagens que questionam a colonialidade. Dessa maneira, os discursos aglutinados no ESP reiteram a colonialidade sobre a educação, a sociedade e as relações étnico-raciais, representando um impedimento às práticas pedagógicas e currículos interculturais e decoloniais na educação.


Palavras-chave


Colonialidade; Escola sem Partido; Relações Étnico-raciais

Texto completo:

PDF

Referências


BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 11, p. 89–117, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

CANDAU, Vera Maria Ferrão; RUSSO, Kelly. Interculturalidade e Educação na América Latina: uma construção plural, original e complexa. Revista Diálogo Educacional, v. 10, n. 29, p. 151, 2017.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón. Prólogo. Giro decolonial, teoría crítica y pensamiento heterárquico. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón (org.). El giro decolonial Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, 2007. p. 9–23.

ESCOLA SEM PARTIDO. Quem Somos. Disponível em: . Acesso em: 23 jul. 2021.

FAGUNDEZ, Ingrid. Mesmo sem lei, Escola sem Partido se espalha pelo país e já afeta rotina nas salas de aula, 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46006167. Acesso em: 16 dez. 2019.

FLEURI, Reinaldo. Interculturalidade, identidade e decolonialidade: desafios políticos e educacionais. Série-Estudos - Periódico do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCDB, v. 37, n. jan./jun. 2014, p. 89–106, 2014.

GIORGI, Maria Cristina et al. Em tempos de neocolonialismo: Escola sem partido ou Escola partida? Education policy analysis archives, v. 26, p. 90, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.14507/epaa.26.3512

GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro e a intelectualidade negra descolonizando os currículos. In: BERNADINO-COSTA, J.; MALDONADO-TORRES, N.; GROSFOGUEL, R. (Eds.). . Decolonialidade e Pensamento Afrodiaspórico. Belo Horiz: Autêntica, 2018. p. 223–246.

LACERDA, Marina Basso. O novo conservadorismo brasileiro: de Reagan a Bolsonaro. 1. ed. Porto Alegre: Zouk, 2019.

MALDONADO-TORRES, Nelson. Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões básicas. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón (org.). Decolonialidade e Pensamento Afrodiaspórico. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. p. 27–53.

MIGNOLO, Walter D. Silencios da autoridade: A colonialidade do ser e do saber. Grial, v. 43, n. 165, p. 26–31, 2005. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/29752393

______. Colonialidade: O Lado Mais Escuro Da Modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 32, n. 94, p. 01, 2017.

______. Diferencia colonial y razón post-occidental. En Santiago Castro-Gómez (ed.). La reestructuración de las ciencias sociales en América Latina (pp. 3-28). Bogotá: Instituto Pensar, Pontificia Universidad Javeriana, 2000.

MIGUEL, Luís Felipe. Da “doutrinação marxista” à “ideologia de gênero” - Escola Sem Partido e as leis da mordaça no parlamento brasileiro. Revista Direito e Práxis, v. 7, n. 15, 14 set. 2016.

MOURA, Fernanda; SILVA, Renata. 6 anos de projetos “Escola sem Partido” no Brasil: levantamento dos projetos de lei estaduais, municipais, distritais e federais que censuram a liberdade de aprender e ensinar. Brasília: Frente Nacional Escola Sem Mordaça, 2020.

MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. Palestra proferida, n. 3º, p. 1-17, 2004

PENNA, F. e SALLES, D. C. A dupla certidão de nascimento do Escola Sem Partido: analisando as referências intelectuais de uma retórica reacionária. In: MUNIZ e LEAL (orgs.). Arquivos, documentos e ensino de história: desafios contemporâneos. Fortaleza: EdUECE, 2017.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

______. Colonialidad del poder y clasificación social. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón (org.). El giro decolonial Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, 2007, 2007. p. 93–126.

SILVA, Douglas. A educação das relações étnico-raciais no ensino de Ciências: diálogos possíveis entre Brasil e Estados Unidos. Tese de doutorado em Educação. Universidade Federal de São Carlos, 2009.

PIRES, Thula. Por um constitucionalismo ladino-amefricano. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón (org.). Decolonialidade e Pensamento Afrodiaspórico. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. p. 285–303.

WALSH, Catherine. Interculturalidad y (de)colonialidad: Perspectivas críticas y políticas. In: 2009, Florianópolis. XII Congresso ARIC. Florianópolis, 2009.




DOI: http://dx.doi.org/10.52641/cadcaj.v7i2.589

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Direitos autorais 2022 Caio Matheus de Freitas Garcia, Caroline dos Santos Maciel Silva, Pedro Pinheiro Teixeira

 

 Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

 

ISSN: 2448-0916.

______________________________________________


 DRJI Indexed Journal