HANS JONAS E A FRAGILIDADE DE DEUS: O ELEMENTO TEOLÓGICO DA RESPONSABILIDADE ÉTICA ANTROPOCÓSMICA

Alexandre Marques Cabral

Resumo


RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo central caracterizar a ideia de responsabilidade ecoteológica como sentido ético da obra jonasiana. Para tanto, é preciso, antes de tudo, assinalar o horizonte hermenêutico da ética de Jonas. Tal horizonte, como entendemos, não é outro senão aquele que emerge da ruptura radical com os dualismos metafísicos da tradição filosófica. Como se pode perceber, Jonas rompe com os dualismos metafísicos por meio de uma crítica radical da cosmovisão gnóstica de mundo, cosmovisão essa que, segundo ele, se reatualiza no pensamento moderno, seja em Pascal ou mesmo em Heidegger e Sartre. Após sua crítica ao gnosticismo, entendido como um modo específico de compreensão de mundo, Jonas interessa-se por promover uma filosofia da biologia que permita a realização de uma virada ética de seu pensamento. Nesse sentido, por causa de sua relação com o pensamento biológico, a ética jonasiana repensa a ética de modo cosmocêntrico, ressignificando a responsabilidade humana para além das relações interpessoais e da promoção de deveres que não se interessam pelo futuro da natureza como um todo. Justamente esse caráter cosmocêntrico da responsabilidade humana descerra o horizonte de inteligibilidade da questão de Deus. Conivente com sua crítica ao gnosticismo, o pensamento teológico jonasiano inscreve Deus no destino do impulso evolutivo da natureza. Por esse motivo, Deus se faz finito em cada ser natural e, no homem, experimenta o caráter decisivo da liberdade humana, estando susceptível ao bem e ao mal morais. Ora, a imanentização de Deus no curso evolutivo do cosmos passa a responsabilizar a liberdade humana pelo destino de Deus, que se decide no interior do curso da natureza. Isso funda, consequentemente, uma responsabilidade ecoteológica, critério de avaliação da eticidade dos comportamentos humanos.


Palavras-chave


PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade; ecoteologia; gnosticismo Deus.

Texto completo:

PDF

Referências


BAZÁN, Francisco García. Aspectos incomuns do sagrado. São Paulo: Paulus, 2005.

_______. Gnosis: laesenciadel dualismo gnostico. Buenos Aires: Castañeda, 1978. BIBLIA DE JERUSALEM. São Paulo: Paulus, 2002.

BRILL, E.J. (Org.) The NagHammadi Library in English. Leiden: The Netherlands, 1996.

BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. Santo André: Academia Cristã, 2008.

___________. Le christianisme primitif dans le cadre des religions antiques. Paris: Petite Bibliotèque Payot, 1969.

___________. Demitologização: Coletânea de ensaios. São Leopoldo: Sinodal, 1999.

CABRAL, Alexandre Marques. Niilismo e hierofania: uma abordagem a partir do confornto entre Nietzsche, Heidegger e a tradição cristã. Vol. 1. Nietzsche, cristianismo e o Deus não-cristão. Rio de Janeiro: Mauad X/Faperj, 2014.

_______.“Hans Jonas, gnosticismo e a questão de Deus: entre redenção da natureza e compromisso ético”. Revista Numen. v 18, n 1, (2015)

CHURTON, Tobias. Los gnósticos: latradición oculta. Madrid: Edaf, 1988.

CULDAUT, Francine. El nascimientodel Cristianismo y el gnosticismo: propuestas. Madrid: Akal, 1996.

FIORILLO, Marília. O Deus exilado: uma breve história de uma heresia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

HEIDEGGER, Martin. Marcas do caminho. Petrópolis: Vozes, 2008.

___________. Sein und Zeit. Tübingen: Max Niemeyer, 2006.

HESCHEL, Abraham. Los profetas: el hombre y su vocación. Buenus Aires: Paidos, s/d.

JONAS, Hans. O princípio vida. Petrópolis: Vozes, 2004.

______. Matéria, espírito e criação. Petrópolis: Vozes, 2010.

______. Pensar sobre Dios y otros ensayos. Barcelona: Herder, 1998.

______. La religión gnóstica: El mensaje del Dios Extraño y los comienzos del cristianismo. Madrid: Siruela, 2000.

______. O princípio responsabilidade. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.

______. Gnosis und spätantiker Geist. I: Die mythologische Gnosis MIT einer Einleitung zur Geschichteund Mithologie der Forschung.Göttingen: Vandenhoeck&Ruprecht, 1964.

LÉVINAS, Emmanuel. Difficile Liberté: Essais sur le Judaisme. Paris: Albin Michel, 1963.

MOLTMANN, Jürgen. O Deus crucificado. Santo André: Academia Cristã, 2014.

NIETZSCHE, Friedrich. Sämtliche Werke. Kritische Studienausgabe. Edição organizada por Giorgio Colli e MazzinoMontinari. 15 Vols. Berlim: Walter de Gruyter, 1967-1978.

_________. A gaia ciência. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

PASCAL, Blaise. Pensamentos. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

PUECH, Henri Charles. Enquête de la Gnose. Paris: Gallimard, 1978. Vol. I: La Gnose et letemps.

RICOEUR, Paul. A região dos filósofos. São Paulo: Loyola, 1996.

SCHOLEM, Gershon. Conceptos básicos del judaísmo: Dios, Creación, Revelación, Tradición, Salvación. Madrid: Trotta, 2008.

_________. A mística judaica. São Paulo: Perspectiva, 1972.




DOI: http://dx.doi.org/10.52641/cadcaj.v2i1.115

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Direitos autorais 2017 Alexandre Marques Cabral

 

 Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

 

ISSN: 2448-0916.

______________________________________________


 DRJI Indexed Journal